Árbitro catarinense sonha alto após temporada boa no futebol brasileiro

O futebol catarinense tem um longo histórico quando o assunto é trazer árbitros de outros Estados para o seu quadro. Nomes como Márcio Rezende de Freitas, Vagner Tardelli, Heber Roberto Lopes e Sandro Meira Ricci ficaram gravados na cabeça do torcedor. No Sul do Estado, um homem tenta reverter essa lógica. 


Trata-se de Bráulio da Silva Machado. Nascido em Laguna, atualmente ele mora na praia de Itapirubá, na vizinha Imbituba, e busca voos maiores. Em 2016, foi eleito o segundo melhor árbitro das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Criou-se até mesmo a expectativa de que fosse chamado para o quadro da Fifa, o que acabou não ocorrendo.

Bráulio admite ter ficado chateado com a recusa, mas, aos 37 anos, diz que vai seguir firme para manter boas atuações e conseguir o nível internacional em 2018. Em meio a tudo isso, o lagunense mantém um carreira como professor de educação física. Segundo ele, a profissionalização da arbitragem é uma necessidade.

– Vai trazer mais apoio e tranquilidade para trabalhar – resume.

Outro ponto polêmico em que Braúlio não se esquiva de opinar é sobre o uso da tecnologia. Para ele, a novidade é bem vinda, mas exige mais testes.

– Não seria bom fazer esses testes em grandes jogos para evitar grandes polêmicas. Tudo que é novo causa um certo impacto – diz.

Confira a entrevista com o árbitro.

Como recebeu a notícia de ter sido escolhido o segundo melhor árbitro do Brasil em 2016?
Com certeza é um reconhecimento. O árbitro batalha muito e é uma luta individual, já que ele não tem um apoio profissional. Somos amadores, mas temos que trabalhar como profissionais. Foi muito bom ter sido escolhido, apesar de todas as dificuldades que passamos. Temos que buscar sempre o melhor individualmente.

Você ficou chateado por não ter entrado no quadro da Fifa?
Realmente, a gente fica um pouco triste, mas entende que o processo é difícil. A vida do árbitro é árdua, mas é gratificante por chegar onde a gente está chegando. A gente não entende muito os critérios, mas isso é da parte da comissão. Entendo que só o fato de já ter se criado essa expectativa é gratificante, visto que a gente tem mais tempo para entrar,  de repente esse ano. Só depende da gente. Mantendo o nível.

É o seu maior objetivo?
Se continuar até o final do ano com o mesmo trabalho e o mesmo empenho, a gente pode chegar com essa expectativa de novo. Mas não depende só do árbitro. É preciso alguém sair por questão física ou tática. O que a gente tem que fazer é continuar o trabalho e manter a dedicação para ficar com o nome cotado e poder ingressar no quadro internacional. Caso não venha, a felicidade também já é enorme de poder atuar na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. Isso já deixa a gente satisfeito. Santa Catarina costuma importar árbitros de outros Estados.

A sua ascensão é importante para a consolidação da arbitragem catarinense em nível nacional?
O fato de ter havido a possibilidade de entrar no quadro da Fifa abriu um leque muito grande para esses novos árbitros. Já faz mais de 20 anos que não temos um árbitro Fifa natural de Santa Catarina. É importante trazer árbitros, mas isso não pode bloquear o desenvolvimento da arbitragem local. Tem que ser investido no árbitro local o mesmo que é investido naquele que vem de fora. Claro que eles vêm trazer conhecimento. O Sandro é um árbitro de Copa do Mundo, o Heber fez Copa América. Ambos têm muito conhecimento. O que não se pode é bloquear os árbitros locais. Muitos são bons e não têm oportunidade. Se isso for dado para todos, possivelmente vão surgir outros (de destaque). Hoje, o árbitro de Santa Catarina que apita primeira divisão sou eu. Acredito que poderia haver um investimento maior em categorias de base, na própria segunda divisão, para esses árbitros novos que estão chegando.

Qual a sua opinião sobre a profissionalização da arbitragem?
Em relação a isso, tem um grande trabalho feito pelo Marco Martins, aqui de Florianópolis, que é presidente da Associação Nacional de Árbitros de Futebol. Já foi aprovada a profissionalização, mas a grande dificuldade que se tem hoje é sobre como a CBF poderia assumir esses 500 árbitros e assistentes que estão filiados, como seriam recolhidos os impostos, a contratação, valor de salários, etc. Tudo isso gera um custo. A gente espera que esse processo seja concluído em breve, para dar mais estabilidade e tranquilidade para o árbitro poder treinar. Hoje a gente paga fisioterapeuta, médico, suplementação, academia. A profissionalização vai trazer mais apoio para trabalhar.

Você é a favor do uso da tecnologia em lances duvidosos?
Sempre vi com bons olhos a chegada da tecnologia no futebol. O problema é como ela vai ser implementada. Mais testes devem ser feitos, talvez em categorias de base. Não seria bom fazer esses testes em grandes jogos para evitar grandes polêmicas. Tudo que é novo causa um certo impacto. Saber como e em que momento da partida vai ser aplicado é importante. Precisa haver um protocolo da Fifa.

Acha que o uso da tecnologia chegará enquanto você estiver apitando?
Acho que sim. A CBF, inclusive, lançou outra circular dizendo que possivelmente em 2017 a tecnologia possa ser usada, que já está aprovada. Não na rodada toda, mas em alguns jogos, na Série A. De repente, nesse ano, a gente já pode ter, então. A dificuldade é saber em que jogo vai ser, como vai ser. Isso tudo gera um custo. Não é só colocar câmara, serão precisos engenheiros, pessoas capacitas, e também tem um grupo muito grande que fica por fora para dar esse suporte ao árbitro de jogo.

Fonte: Diário catarinense – Foto: Cesar Greco

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