Árbitros se unem, pedem segurança e contam com a FCF para superar período sem jogos

Integrantes da cadeia “escondida” do futebol, árbitros de Santa Catarina admitem dificuldades no momento, mas querem a retomada com segurança para todos

“Eu não tenho palavras para descrever o quanto o futebol me faz falta nesse momento, mas antes disso, eu quero a segurança minha e da minha família” – admitiu um árbitro de futebol da base do quadro da FCF (Federação Catarinense de Futebol), que comanda jogos amadores e de categorias de base.

Trabalho com os árbitros realizados ainda em outubro de 2019, bem antes da eclosão da pandemia – Foto: FCF/divulgação

Com a condição de não revelar seu nome, o profissional do apito falou das dificuldades oriundas a partir da pausa do futebol, elogiou o empenho FCF, confessou as adversidades financeiras do momento, mas pediu para que o futebol volte “somente com segurança”.

“Eu tenho que ‘fabricar’ meu dinheiro, estou com contas atrasadas e seria mais fácil eu vir aqui e dizer que tudo precisa voltar ao normal, mas eu tenho a consciência de que o momento é grave e precisamos ter cautela” – acrescentou o homem do apito que, em mais de uma oportunidade, pediu “sigilo” para falar.

Com o isolamento social forçado pela pandemia do novo coronavírus, que já vitimou 28.872 pessoas no Brasil e 370 mil em todo o planeta, a cadeia do futebol também foi seriamente afetada.

A arbitragem, com papel crucial na disputa e no rendimento do futebol, não é diferente e também precisa se contorcer para mitigar os efeitos que a ausência das partidas gerou no bolso e na rotina de todo cidadão.

Para Adriano Roberto de Souza, 41 anos e integrante do quadro de arbitragem da FCF desde 2015, o entendimento é semelhante ao do companheiro de profissão. Pertencente ao time de árbitros do topo da pirâmide, credenciado a trabalhar em jogos da primeira divisão do estadual, Adriano também pede medidas que não exponham os profissionais e tampouco seus respectivos familiares.

“Quero que volte, nós precisamos voltar, mas tem que ser com segurança. Futebol é difícil também, tem uma série de coisas, é calor humano. Acho que segurança só teremos quando encontrarem uma vacina, ou algo assim” – admitiu Adriano.

Ele lembra ainda dessa iminência do retorno que, ao acontecer, será sem torcida. Adriano ainda lamenta pela “cadeia do futebol” que vai, além dos envolvidos dentro do gramado, todos os “anônimos” que fazem acontecer o espetáculo como seguranças, pipoqueiros, paramédicos e demais integrantes.

Ao contrário do outro personagem, Adriano tem uma carreira paralela de funcionário público onde, admite, tem condições de prover seu sustento e dos seus familiares.

Sindicato engajado e em busca de ajuda
De olho em exemplos como esses, em especial árbitros de divisões inferiores ou que trabalham em campeonatos amadores, a Sinafesc (Sindicato dos Árbitros de Futebol de Santa Catarina), deu início à campanha “árbitros unidos”.

No grupo de WhatsApp dos árbitros catarinenses, o sindicato disponibiliza um formulário, onde o profissional preenche os dados e solicita um auxílio de cestas básicas, explica o presidente do Sinafesc, Johnny Barros.

Ele estará presente: Vilão ou mocinho do futebol atualmente, o VAR (Árbitro Assistente de Vídeo) será usado na final desta tarde, em Florianópolis. – Foto: Fábio Machado/ND

Outros árbitros em condições melhores podem contribuir com a campanha. “Vários têm ajudado árbitros com a entrega de cestas básicas”, explica Barros que, segundo revelado, a campanha já avançou para um segundo momento.

O sindicato espera “o quanto antes” a retomada do futebol, paralisado ainda em março devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). “Prejudica a questão financeira dos árbitros. Entendemos a paralisação por uma causa de saúde”, reitera o presidente.

O sindicato segue em contato com o governo do Estado para entender os protocolos de um possível retorno das competições amadoras e profissionais.

“Expectativa é grande para que as atividades voltem. O basquete foi retomado, então esperamos que o futebol seja retomado, pois envolve a situação de clubes, arbitragem, gandula, pipoqueiro, das pessoas que trabalham pra organizar o evento. O futebol tem uma função social muito grande” – afirma Barros.

CBF dá aporte financeiro
Ainda em abril, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), realizou um aporte financeiro aos árbitros do quadro FIFA e CBF, afirmou o presidente da Sinafesc.

Do quadro catarinense, fazem parte do quadro FIFA: Bráulio da Silva Machado (árbitro), Charly Wendy Straud Deretti (árbitra), Kléber Lúcio Gil (assistente) e Rafael Traci (árbitro).

Nas redes sociais, o presidente da ANAF (Associação Nacional de Árbitros de Futebol do Brasil), Salmo Valentim, confirmou a informação.

“O mundo vive um momento de incertezas por conta da proliferação do novo coronavírus. No futebol, com as competições suspensas, muitos árbitros foram afetados economicamente. Por isso o presidente da CBF não só entendeu a situação, como aceitou o nosso pleito” – escreveu.

De acordo com a ANAF, os árbitros da FIFA receberam R$6 mil, os da CBF que atuam nas Séries A e B R$ 3 mil e os que atuam nas Séries C e D têm direito a R$ 1,5 mil.

Barros, no entanto, lamenta que a entidade não garanta condições à árbitros fora do quadro.

“O sindicato não possui uma condição financeira confortável para essa questão de aporte. Árbitros pequenos [de liga] são os mais afetados, os que trabalham em campeonatos municipais” – completa.

FCF oferece amplo suporte
Para o diretor de arbitragem da FCF, Marco Martins, a entidade tem buscado ajudar, sobretudo, a parcela dos profissionais que mais necessitam nesse momento. A direção, além do auxílio na distribuição de cestas básicas, vem monitorando a saúde de todos os integrantes do quadro.


Federação Catarinense foi avisada pela recusa do pedido do retorno do futebol profissional – Foto: Divulgação/FCF/ND

Há a disponibilização de psicólogos, além de uma ajuda na melhora e aprimoramento físico.

Atualmente a federação conta com 250 árbitros que são divididos em três categorias: g1, g2 e g3. O primeiro grupo trabalha na elite do futebol local, o segundo atual na segunda divisão para baixo e o terceiro fica a disposição dos campeonatos de base e do futebol amador.

Segundo Marco Martins, ao menos 30 profissionais foram beneficiados com o trabalho desenvolvido entre federação e sindicato. Ele lembra que há muita dificuldade para ajudar “de maneira linear”, mas acrescenta que há um movimento para que, os que mais necessitam, sejam identificados e assistidos.
Sobre a volta do futebol Marco segue a linha de que é preciso ter segurança a todos, mas que essa definição fique a cargo dos órgãos competentes da saúde nas esferas estadual e municipal.

Ainda assim ele salienta o tamanho da cadeia do futebol. “Estamos com o que os órgãos decidirem, não só no quesito da arbitragem, mas todos queremos voltar, a cadeia do futebol é muito grande”, pontuou o chefe do departamento.

Fonte: ndmais.com.br

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